"A única coisa que temos de respeitar, porque ela nos une, é a língua." Franz Kafka
Participei do III Seminário Nacional de Surdos da UFPR, neste final de semana. Ufa! Confesso que cheguei em casa cansada, afinal ver Libras, ouvir em Português, tentar encaixar uma língua na outra e ainda absorver o conteúdo transmitido, não foi fácil, mas muito gratificante. Foram muitos os assuntos, muita coisa para ser pensada e repassada, mas gostaria de me ater neste post a questão do respeito, que deveria ser intrínseco em qualquer um e à qualquer um, mas não é bem assim que ocorre.
Vivi minha primeira experiência de estar entre os surdos, e assim, em um ambiente onde a minha língua não era a predominante, embora muitas pessoas fossem ouvintes como eu. E passei por uma situação que acredito muitos surdos já passaram que é chegar num lugar sem intérprete.
Cheguei atrasada para o mini curso, já tinha passado uns 30 min., e ao entrar na sala, percebi que não tinha intérprete e, o detalhe, estava sendo feito em Libras. Muitas coisas se passaram pela minha cabeça e acho que a primeira foi "Vou embora". Como foi difícil entrar em um ambiente onde não conseguia entender o que estava sendo dito. Já estou no Básico 2 de Libras e sou capaz de pedir um intérprete, mas quem disse que na hora eu consegui ao menos lembrar que eu sabia Libras. A sensação foi de impotência, de menos valia " Não sou capaz, como os outros que estão aqui, de entender essa língua".
Foi preciso passar o primeiro impacto para que eu percebesse o que estava acontecendo. Encontrei minhas duas amigas, ouvintes ... um porto-seguro. Elas me disseram que o intérprete estava lá, mas foi dispensado porque ninguém queria. Nisso consegui lembrar do que tanto se falou no dia anterior, o direito a um intérprete.
Ótimo, com a ajuda delas e com o respeito do Leandro Patrício (diretor da FENEIS do Paraná), foram chamar o intérprete. Um segundo sentimento apareceu nesse momento, "Estou atrapalhando os outros" e a minha reação foi pedir para continuar o curso. Mas estava diante de uma pessoa que sabe que os direitos devem ser respeitados e não é a pessoa que está sendo desrespeitada que deve ceder, mesmo sendo a minoria.
O respeito pelo qual fui tratada me surpreendeu. Foi uma experiência positiva, afinal eu tive meus direitos validados. Porém, não é isso que ocorre com os surdos na maioria das vezes. Muitos são os relatos de surdos que chegam na sala de aula e não encontram o intérprete ou em palestras, ou na propaganda política. A Prof* Dr * Silvia Andreis Witoski, relatou que na sua primeira aula de doutorado, ela não encontrou o intérprete prometido e que a sua primeira vontade foi a de abandonar tudo, porém, não desistiu e conseguiu seguir em frente. E hoje já fez até o pós-doc. Então isso ocorre o tempo todo.
O que precisa prevalecer é a vontade de ir em frente, ter objetivos, metas a serem alcançadas, saber dos seus potenciais e das suas capacidades e acreditar nelas, mesmo que tudo e todos ao seu redor digam o contrário. Volto a ressaltar, não é fácil, ao contrário, as dificuldades aparecem a todo instante e quando menos esperamos. Foi difícil para mim, mesmo recebendo o respeito, imagino para o surdo que tem que lutar a todo instante, a cada passo, pelos seus direitos.
Acredito que os acontecimentos provocam mudanças , depois de 1, 2, 3 vezes que os direitos vão sendo reclamados as coisas vão se modificando. Por isso é importante que o surdo não desista, para que tenha seus direitos da mesma forma que eu tive, sem precisar brigar por eles.
Gostaria de saber a sua opinião, ou sua experiência com a falta de um interprete para que possamos ampliar esse assunto.
Até o próximo post.
Vivi minha primeira experiência de estar entre os surdos, e assim, em um ambiente onde a minha língua não era a predominante, embora muitas pessoas fossem ouvintes como eu. E passei por uma situação que acredito muitos surdos já passaram que é chegar num lugar sem intérprete.
Cheguei atrasada para o mini curso, já tinha passado uns 30 min., e ao entrar na sala, percebi que não tinha intérprete e, o detalhe, estava sendo feito em Libras. Muitas coisas se passaram pela minha cabeça e acho que a primeira foi "Vou embora". Como foi difícil entrar em um ambiente onde não conseguia entender o que estava sendo dito. Já estou no Básico 2 de Libras e sou capaz de pedir um intérprete, mas quem disse que na hora eu consegui ao menos lembrar que eu sabia Libras. A sensação foi de impotência, de menos valia " Não sou capaz, como os outros que estão aqui, de entender essa língua".
Foi preciso passar o primeiro impacto para que eu percebesse o que estava acontecendo. Encontrei minhas duas amigas, ouvintes ... um porto-seguro. Elas me disseram que o intérprete estava lá, mas foi dispensado porque ninguém queria. Nisso consegui lembrar do que tanto se falou no dia anterior, o direito a um intérprete.
Ótimo, com a ajuda delas e com o respeito do Leandro Patrício (diretor da FENEIS do Paraná), foram chamar o intérprete. Um segundo sentimento apareceu nesse momento, "Estou atrapalhando os outros" e a minha reação foi pedir para continuar o curso. Mas estava diante de uma pessoa que sabe que os direitos devem ser respeitados e não é a pessoa que está sendo desrespeitada que deve ceder, mesmo sendo a minoria.
O respeito pelo qual fui tratada me surpreendeu. Foi uma experiência positiva, afinal eu tive meus direitos validados. Porém, não é isso que ocorre com os surdos na maioria das vezes. Muitos são os relatos de surdos que chegam na sala de aula e não encontram o intérprete ou em palestras, ou na propaganda política. A Prof* Dr * Silvia Andreis Witoski, relatou que na sua primeira aula de doutorado, ela não encontrou o intérprete prometido e que a sua primeira vontade foi a de abandonar tudo, porém, não desistiu e conseguiu seguir em frente. E hoje já fez até o pós-doc. Então isso ocorre o tempo todo.
O que precisa prevalecer é a vontade de ir em frente, ter objetivos, metas a serem alcançadas, saber dos seus potenciais e das suas capacidades e acreditar nelas, mesmo que tudo e todos ao seu redor digam o contrário. Volto a ressaltar, não é fácil, ao contrário, as dificuldades aparecem a todo instante e quando menos esperamos. Foi difícil para mim, mesmo recebendo o respeito, imagino para o surdo que tem que lutar a todo instante, a cada passo, pelos seus direitos.
Acredito que os acontecimentos provocam mudanças , depois de 1, 2, 3 vezes que os direitos vão sendo reclamados as coisas vão se modificando. Por isso é importante que o surdo não desista, para que tenha seus direitos da mesma forma que eu tive, sem precisar brigar por eles.
Gostaria de saber a sua opinião, ou sua experiência com a falta de um interprete para que possamos ampliar esse assunto.
Até o próximo post.
·